terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Manejo sustentável de ostras

Em Curuçá, catadores querem evitar fim dos recursos 

Nas fotos, cenas da pesquisa de campo realizada por Rafael Diaz, na Vila de Lauro Sodré, em Curuçá, onde o manejo sustentável está ajudando a frear a exploração desordenada dos recursos pesqueiros.

Por Vitor Barros Fotos Acervo do Pesquisador

Não são poucas as pesquisas que têm se debruçado sobre o litoral brasileiro e sobre a pressão atual em relação aos seus recursos naturais. Por essa área ter dimensões continentais e por possuir cerca de 700 mil pescadores em atividade, estes estudos buscam verificar quais são os fatores que levam à escassez desses recursos, na tentativa de visualizar soluções para frear sua diminuição. Na Região Amazônica, o crescimento dos centros urbanos e a alta procura pelos recursos pesqueiros provocaram a intensificação da pesca. Combinada à tecnológica, a atividade resultou no aumento da exploração dos recursos pesqueiros.

Como alternativa, a Fundação das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) adotou a maricultura como uma das estratégias para frear a pressão sobre os recursos marinhos de uso comum em todo o mundo. Apesar de esta prática ainda ser pouco difundida no litoral amazônico, composto por uma extensa floresta de manguezais, o local se mostra propício para tal cultivo.

A Vila de Lauro Sodré, que pertence ao município de Curuçá, no nordeste paraense, é um exemplo de que o manejo sustentável é uma prática viável. A experiência dos catadores de ostras do lugar é relatada pelo mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) Rafael Diaz, na dissertação As populações pesqueiras e a maricultura: um olhar sobre os processos de diminuição dos recursos pesqueiros no litoral paraense – Resex Mãe Grande de Curuçá. O trabalho foi orientado pela professora Voyner Cañete e apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca (ICB/UFPA).

Rafael Diaz, formado em Oceanografia, tem uma relação afetiva com o litoral paraense de longa data, desde a graduação. Esse interesse o levou a estudar a relação das pessoas com os recursos naturais. No mestrado, ele pôde pesquisar os moradores de Lauro Sodré, cuja principal atividade econômica se baseia no extrativismo e no cultivo de ostras. “O meu trabalho foi conversar com as pessoas que fazem parte de uma associação de catadores de ostras e entender como, de certa forma, elas estão colaborando para a manutenção do recurso ambiental (ostra) no litoral paraense”, completa o pesquisador.

Pesquisador analisou logística e comercialização 

O estudo faz uma reflexão da relação dos associados da Cooperativa Associação de Aquicultores da Vila de Lauro Sodré (Aquavila) com o extrativismo e outras formas de manejo dos recursos pesqueiros à luz dos conceitos da Ecologia Humana e da Ecologia Política. “Percebo a ecologia não apenas com os parâmetros biofísico-químicos do ambiente. A pesquisa deve considerar as pessoas que moram e estão inseridas no contexto estudado. Afinal, a política e a organização social, além dos aspectos ambientais, interferem também na manutenção dos ecossistemas”, avalia Rafael Diaz.

Para a concretização dessa pesquisa, Rafael fez observação direta, colhendo os dados no local. Foram quatro viagens, com estada de uma semana no local. Foram aplicados questionários e realizadas entrevistas com membros da cooperativa. O pesquisador teve a oportunidade de acompanhar o processo completo: do cultivo, passando pela coleta e extração, até a venda dos mariscos. Assim, pôde analisar a logística e as formas de comercialização do produto.

O autor observou duas famílias cujos membros constituem a maior parte dos associados – as famílias Pinheiro e Galvão. “O trabalho de campo possibilitou conhecer melhor essas famílias e seu cotidiano, objetivando entender suas estratégias de manejo dos recursos comuns, sua relação com os mercados e a forma de comercialização dos produtos”, destaca.

São duas as formas de obtenção de ostras, em Lauro Sodré: uma pelo extrativismo e outra pelo cultivo, ambas são formas de manejo. Porém, por vários motivos, incluindo o rápido retorno financeiro e a disponibilidade ainda abundante do recurso, na Vila, a maioria das pessoas opta pelo extrativismo.

Aquicultores temem a exploração desordenada 

Os associados revelam diferentes formas de manejo e o cultivo vem se tornando uma estratégia eficaz para frear a diminuição dos recursos naturais na localidade. De acordo com a dissertação, “os aquicultores entendem o extrativismo como de suma importância para os moradores da vila de Lauro Sodré e acreditam que, quando a atividade extrativista decair, em razão da exploração desordenada, quem vive dessa prática terá que buscar a solução na aquicultura”.

Diante das diferenças na logística de venda e no manejo das ostras, o pesquisador diz que existe uma racionalidade ambiental entre os associados, cuja atividade possui um conjunto de regras, que apresenta aspectos sustentáveis.

Mas esses dados são capazes de mensurar realmente a sustentabilidade desse manejo? Rafael Diaz responde que, considerando o tempo em que se trabalha a maricultura em Lauro Sodré (apenas seis anos), é importante ter cautela ao usar a palavra sustentabilidade. “Observa-se o esforço dos associados para difundir o cultivo e a dedicação na busca por novos pontos. Isso nos faz acreditar em um próspero futuro para esta associação, cujo objetivo é diminuir o extrativismo”, afirma.

Quando a associação foi fundada em 2006, a Aquavila contava com 42 associados, que foram desistindo ao encontrarem obstáculos. Atualmente, a Aquavila apresenta apenas 13 associados (sete homens e seis mulheres), com faixa etária entre 20 e 60 anos. “A falta de incentivos por parte do Estado e a atividade extrativista, ainda muito presente na vila de Lauro Sodré, são vistas como principais fatores para o afastamento dos associados”, acrescenta Rafael Diaz.

A ostra adulta é o principal produto de venda da Aquavila. Os compradores mais assíduos são de Terra Alta, Castanhal, Outeiro e Mosqueiro. Apenas um associado vende para localidades mais distantes, como Marabá e Imperatriz (MA). Há também a venda de ostras na própria vila de Lauro Sodré.

Ed.146 - Dezembro e Janeiro de 2018/2019

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As populações pesqueiras e a maricultura: um olhar sobre os processos de diminuição dos recursos pesqueiros no litoral paraense – Resex Mãe Grande de Curuçá

Autor: Rafael Diaz

Orientadora: Voyner Cañete

Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca (PPGEAP/ICB).


segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Santa Catarina tem nova Lei Estadual da Piscicultura

Os piscicultores catarinenses terão novas regras para licenciamento ambiental. Na ultima terça-feira (04/12) a Assembleia Legislativa aprovou a Lei Estadual da Piscicultura - encaminhado pelo Governo do Estado em abril deste ano.

Piscicultura Catarinense. Foto: Divulgação/ MB Comunicação.

A nova Lei é uma atualização da Lei nº 15.736/2012, que disciplina a piscicultura de águas continentais no estado, e busca adequá-la ao Código Florestal Brasileiro e ao Código Estadual do Meio Ambiente. A principal mudança será nos critérios para o licenciamento ambiental. A proposta permite o uso de áreas de preservação permanente (APPs) para a atividade da piscicultura – seguindo critérios que liberem a produção, sem comprometer a preservação da vegetação nativa.
“A nova Lei é um instrumento importante para incentivar a piscicultura em Santa Catarina, gerando mais renda e empregos no meio rural. Além da produção de alimentos saudáveis, de qualidade e a custos acessíveis para os consumidores catarinenses”, ressalta o secretário da Agricultura e da Pesca, Airton Spies.
A piscicultura catarinense tem características diferentes de outros estados. Em Santa Catarina, a grande maioria das propriedades tem menos de 50 hectares e conta com mão de obra familiar. Com o espaço reduzido, 95% dos açudes e viveiros para cultivo de peixes de água doce estão em áreas de preservação permanente. E, por isso, os produtores não possuem licença ambiental, ficando impossibilitados de acessar o crédito rural, os programas de fomento do Governo Federal e Estadual e, até mesmo, as medidas de recuperação ambiental.
Segundo o gerente de Pesca da Secretaria da Agricultura, Sergio Winckler, a partir de agora 90% dos piscicultores sairão da ilegalidade. “Os produtores terão mais segurança com a legalização das unidades produtivas, podendo inclusive acessar crédito para investimento. Este é um marco importante para a piscicultura catarinense. A intenção agora é trabalhar junto aos órgãos ambientais para regularização dessas propriedades”.
A verdade é que tanto o Código Florestal quanto o Código Estadual do Meio Ambiente já autorizam a piscicultura em áreas de preservação permanente. Então a Lei Estadual da Piscicultura foi adequada para regulamentar o licenciamento ambiental e dar mais segurança jurídica aos piscicultores, que em sua maioria são agricultores familiares.
A nova Lei da Piscicultura foi elaborada em conjunto pela Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca, Instituto do Meio Ambiente (IMA), Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, Epagri e Polícia Militar Ambiental.
Piscicultura em Santa Catarina
Santa Catarina conta com mais de 30 mil piscicultores, entre amadores e comerciais. O estado está entre os principais produtores de peixes de água doce do país, com uma produção de 43,3 mil toneladas em 2016.
Em termos financeiros, os piscicultores geraram mais de R$ 200 milhões em 2016. A produção está concentrada nas regiões de Tubarão, Joinville, Rio do Sul e Blumenau. E a espécie mais produzida no estado é a tilápia.


terça-feira, 27 de novembro de 2018

Entenda como o crescimento da aquicultura influencia o mercado mundial de soja

Piscicultura. Foto: seafoodbrasil.com.br.
Se eu perguntar ao cidadão brasileiro qual a carne mais produzida e consumida no mundo, dificilmente alguém responderá que é a carne de peixe. No entanto, ela não apenas é a mais produzida (220 milhões de toneladas – Mt), como representa quase o dobro da segunda colocada, a carne suína (120 Mt).

Ao estranhar, mas finalmente conformar-se com esta realidade, o cidadão deve logo atribuir ao pescado capturado, como sendo o principal responsável por toda essa quantidade. Errado. A carne de pescado de captura, que durante séculos dominou o mercado das carnes no mundo, atualmente responde por 80 Mt contra 140 Mt da aquicultura.

O que chama a atenção na carne de peixe, além do grande volume produzido, é a evolução relativa do pescado de captura em contraste com a aquicultura. Enquanto esta evoluiu de 20 Mt em 1990, para uma previsão atual de 140 Mt previstos para proximamente, a produção de pescado permaneceu quase inalterada em cerca de 80 Mt e existem indicativos de que a produção desta carne continuará estacionada, enquanto a produção aquícola continuará crescendo no alucinante ritmo das últimas décadas.

Atualmente, a carne de peixe proveniente da aquicultura encabeça a produção mundial de carnes, liderança que se consolidará nos anos vindouros visto ser, a aquicultura, uma atividade econômica relativamente recente, principalmente nos países do ocidente, entre eles o Brasil.

O Continente Asiático, principalmente China, Indonésia, Índia, Vietnã e Filipinas, responde por mais de 70% da produção aquícola mundial. No entanto, o Ocidente está percebendo a vantagem do negócio e muitos países, incluindo o Brasil, estão investindo na área e sinalizando que, num futuro não muito distante, a aquicultura alcançará grande importância na região.

No Brasil, grandes empreendimentos aquícolas já podem ser encontrados no âmbito de cooperativas agropecuárias como a CVale e a Coopacol no Paraná, ou em empreendimentos privados do Mato Grosso, como em Sorriso e adjacências.

A crescente demanda por proteína animal (carnes, leite e ovos), consequência do aumento da renda per capita dos cidadãos, além do aumento e do envelhecimento da população, ajuda a explicar a crescente demanda por soja (farelo), particularmente por parte da China, visto que este país precisa dela para alimentar, não só seu enorme plantel de suínos e aves, mas, também, sua crescente indústria de peixes.

Como os peixes provenientes da aquicultura se alimentam de ração, cuja principal matéria prima é o farelo de soja, quanto maior for a produção de peixes em cativeiro, provavelmente maior será a demanda de soja.

Peixes confinados também se alimentam de soja, intuindo que a demanda deste grão continuará aquecida, não apenas por conta do consumo de bovinos, suínos e aves, mas também dos peixes, cujo consumo cresce em paralelo com a economia.


domingo, 25 de novembro de 2018

Manual vai orientar a industrialização do pescado em Mato Grosso



A Afirmação é do presidente da Associação dos Aquicultores de Mato Grosso (Aquamat), Daniel Melo, ao receber o ‘Manual técnico para regularização do processamento do pescado do estado de Mato Grosso’.

De acordo com Melo, no início do ano a alteração de uma normatização pelo Ministério da Agricultura estabeleceu que todo pescado precisa ser inspecionado para ser beneficiado. “Como boa parte dos produtores não estavam totalmente preparados, criou-se esse trabalho em parceria com o Sebrae e diversas instituições para montar o manual de forma correta e orientar como criar esse frigorífico dentro das normas”, explicou o presidente da associação.

A Aquamat tem mais de 400 produtores associados e representa em torno de 60% da produção do estado. “Há poucos meses estava todo mundo desesperado sem poder transportar o peixe para o restaurante, para onde quisesse. E identificando essa situação, o Sebrae logo se movimentou. Nesse meio termo, que não foram nem seis meses, dois ou três frigoríficos já conseguiram o registro de inspeção municipal. Então, é a prova de que quando a gente quer a gente dá as mãos e consegue vencer os desafios e fazer a piscicultura crescer. E tenho a certeza que com todos imbuídos nesse objetivo vamos conseguir ter uma grande produção no nosso estado”, destacou Garcia. 

“Sabemos da importância desse trabalho realizado com muitos parceiros e representantes do governo estadual. Com esse manual tenho a convicção que vamos reduzir os conflitos e atritos existentes. Parabéns Daniel, por todo o seu trabalho e da Aquamat, e que estejamos juntos em outra jornada”, ressaltou o superintendente do Sebrae em Mato Grosso, José Guilherme Ribeiro. 

No Brasil a produção de peixes nativos significa 43,7% da produção nacional – mais de 300 mil toneladas. Segundo a pesquisa pecuária municipal, Mato Grosso é o quarto maior produtor de peixe de água doce com uma produção aproximada de 36 mil toneladas, em 2017. “Sabemos da importância dessa atividade para o estado de Mato Grosso, que já foi o maior produtor de pescado de água doce e tem potencial de, no curto prazo, se tornar o maior produtor desde que o governo não atrapalhe, tenha regras claras e olhe o setor”, afirmou o secretário de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Leopoldo de Mendonça. 

De acordo com o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae em Mato Grosso, Hermes da Cunha, Mato Grosso é reconhecido nacionalmente como celeiro do planeta com a responsabilidade de produzir alimentos para o mundo. “Ampliamos o nosso olhar para as tecnologias que já dominamos na produção de grão, carnes suínas, bovinas e agora na produção de peixes. Temos natureza em abundância, temos melhores empreendedores, temos facilidade para produzir insumos e a piscicultura, e temos o desejo de criar apoiar as políticas públicas necessárias para o pleno aproveitamento dessas potencialidades a partir dos nossos mananciais aquáticos de forma sustentável”. 

O Manual técnico para regularização do processamento do pescado do estado de Mato Grosso foi lançado durante a abertura da Feira Nacional de Peixes Nativos de Água Doce, que ocorreu nos dias 13 e 14 de novembro, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá.

Futuro da piscicultura em MT

Segundo o presidente da Aquamat, Daniel Garcia, Mato Grosso possui um grande potencial para desenvolver a produção de peixes. “Mato grosso tem o segundo maior potencial hídrico do Brasil, temos reservatórios formados por usinas hidrelétricas ou PCHs que podem ser utilizados para a produção em tanque em rede e temos inúmeros rios para fazer a produção em tanque escavado. Ou seja, a nossa capacidade é enorme”. 

De acordo com Garcia, atualmente os produtores mato-grossenses devem produzir entre 20 e 30% da capacidade do estado. “Existe um grande trabalho a ser feito e estamos muito preparados, porque temos os grãos que são a matéria-prima pra ração, as indústrias de ração, os produtores com capacidade, potencial hídrico, frigoríficos instalados que estão ociosos ou até parados. O que a gente precisa hoje é segmentar a produção para termos peixe em todos os meses do ano, não somente em alguns meses como acontece hoje”.

O presidente da Aquamat destaca que essa sazonalidade é prejudicial aos frigoríficos, porque eles não se sustentam com peixe somente em seis meses do ano. “Para isso, precisamos separar entre produtores de alevino, produtores de formas jovens – que é a recria-, e os produtores de peixe para engorda, de tal forma que este tenha todo mês um peixe para comprar e engordar num prazo menor. Em vez dele fazer o processo inteiro dentro da sua propriedade, ele pode comprar o peixe um pouco maior e reduzir o ciclo de engorda. Assim, vai ter peixe com mais constância e isso vai fortalecer a indústria. Esse é o grande desafio que a gente tem hoje”, finalizou Garcia.


Embrapa inicia projeto sobre pesca artesanal em Roraima


Uma expedição de pesquisa a região do baixo Rio Branco, em Roraima, marcou o início das atividades do projeto PROPESCA no Estado. Intitulado ‘Monitoramento e Gestão Participativa da Pesca Artesanal como Instrumento de Desenvolvimento Sustentável em Comunidades da Região Amazônica’, a iniciativa busca ampliar o conhecimento e melhorar a atividade da pesca artesanal em três estados da região Norte: Roraima, Tocantins e Pará. O projeto conta com financiamento do Fundo Amazônia.

Em Roraima, a primeira atividade do PROPESCA envolveu visita de equipe da Embrapa e do ICMBio (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica) a região do baixo Rio Branco para identificação e georeferenciamento dos ambientes aquáticos em que serão desenvolvidos os trabalhos.

Na oportunidade, também foram realizados os contatos iniciais com as representações do setor pesqueiro (ribeirinhos, produtores, atravessadores e comerciantes) nos municípios de Caracaraí, Rorainópolis e São Luís para sensibilização quanto à atuação do projeto na região.  A pesca é uma atividade importante para Roraima, sendo fonte expressiva de alimento e de renda para as populações ribeirinhas. Atualmente, são mais de seis mil pescadores profissionais em atividade, a maioria deles na região do baixo Rio Branco.

Projeto participativo

Com duração de dois anos, o PROPESCA atuará no acompanhamento e monitoramento da atividade pesqueira, promovendo capacitações sobre boas práticas de manipulação do pescado, educação ambiental e legislação (pesqueira e trabalhista). Também serão desenvolvidos trabalhos com manejo e ecologia pesqueira; organização social (associativismo e cooperativismo); gestão, comercialização e noções de piscicultura com a produção integrada de alimentos.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Sandro Loris, coordenador do projeto em Roraima, o objetivo é gerar informações básicas para subsidiar os tomadores de decisão na execução de políticas públicas voltadas para a atividade da pesca artesanal, setor econômico até então esquecido.

“Este é um projeto participativo, que busca entender a realidade local para, assim, caracterizar a cadeia produtiva da pesca artesanal em Roraima, conhecendo seus entraves e também suas potencialidades”, completa o pesquisador.

Expedição ao baixo Rio Branco

A expedição a região do baixo Rio Branco foi realizada no período de 29 de outubro a 9 de novembro de 2018, percorrendo os rios Branco, Mucajaí e Uraricoera, no estado de Roraima. A viagem foi viabilizada graças a articulação multi-institucional, que contou com a participação de representantes de instituições de pesquisa da região amazônica e envolveu coleta de materiais e dados para diversos projetos. A expedição foi financiada com recursos do Ministério do Meio Ambiente por meio do Programa ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia.

Além das atividades do PROPESCA, a expedição deu início aos estudos para implementação de um protocolo de monitoramento da contaminação por metais pesados em peixes e nas águas da região, projeto coordenado pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), com participação do CEPAM/ ICMBio (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica), IACTI-RR (Instituto de Amparo à Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Roraima), PRONAT/UFRR (Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais), UEA (Universidade do Estado do Amazonas) e UFAM (Universidade Federal do Amazonas).


Fonte: www.embrapa.br.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

NAEA promove o I Seminário Socialidades, Intersubjetividades e Sensibilidades Amazônicas


No dia 27 de novembro, pesquisadores, estudantes e interessados em conhecer estudos recentes sobre culturas e comunicação, assim como as suas possíveis relações, poderão participar do “I Seminário Socialidades, Intersubjetividades e Sensibilidades Amazônicas”, na Universidade Federal do Pará (UFPA).

Com o apoio da Faculdade de Comunicação e o Programa Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM), ambos da UFPA, a programação será realizada durante todo o dia, no Auditório Armando Mendes, como parte da agenda de seminários promovida pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) em comemoração aos seus 45 anos. Nela, os integrantes do grupo de pesquisa “Socialidades, Intersubjetividades e Sensibilidades Amazônicas” (SISA) apresentarão os resultados e as principais discussões relacionadas  com os trabalhos em curso.

De acordo com o coordenador do grupo, o professor Fábio Fonseca de Castro, o SISA tem uma perspectiva interdisciplinar e reúne pesquisadores e alunos que, por meio de disciplinas diferentes, investigam processos culturais na Amazônia. “O que agrega as pesquisas do SISA é uma disposição metodológica compreensiva e uma preocupação com o estudo dos processos intersubjetivos e das formas de sensibilidade presentes nas diversas populações amazônicas”, explica Castro.

Programação - Serão quatro mesas, por meio das quais serão apresentados e discutidos trabalhos sobre os mais diversos assuntos, mas ligados por um mesmo eixo temático. Após as apresentações dos autores em cada mesa, um tempo será destinado ao debate com todos os participantes do evento.

Na primeira, prevista para as 8h30 e intitulada "Sensibilidades e intersubjetividades amazônicas”, serão realizadas as seguintes apresentações: “Processos intersubjetivos nas festas da aparelhagem Superpop”, por Hans Costa (UNAMA); “Elas vestem azul marinho: uma etnografia das relações de poder e gênero que envolvem as torcedoras do Clube do Remo”, por Aline Freitas (PPGA/UFPA); “Aguentando a barra: uma etnografia das sensibilidades  e sociabilidades produzidas entre praticantes de CrossFit em Belém”, por Rebecca Lima (PPGCOM/UFPA); “Fotografia e a construção do olhar crítico. Experiências sensíveis no movimento fotográfico de Belém/Pará”, por Raoni Arraes (PPGCOM/UFPA), e “Práticas intersubjetivas e comunicativas na Livraria Fox”, por Daniel Chagas (Facom/UFPA).

"Socialidades e desenvolvimento na Amazônia" será o tema da segunda, que iniciará às 10h45, com as seguintes pesquisas: “Intersubjetividade e duração de processos sobre o mundo do trabalho na Amazônia: dos camponeses-caboclos aos camelôs do Centro Comercial de Belém”, de Alexandre Lins (PPDSTU/Naea/UFPA); “Elementos para uma crítica da finalidade à racionalidade científica: a colonização do mundo da vida”, de Rafael Bastos Ferreira (PPDSTU/Naea/UFPA); “Ação social, planejamento municipal e desenvolvimento local”, de Luis Carlos Rodrigues (PPDSTU/Naea/UFPA); “Democratização da UFPA e cidadania: pessoas em situação de rua e as diferentes possibilidades de uso da Instituição”, de Bianca Leão (PPGCOM/UFPA).

Após o intervalo do almoço, a agenda retornará às 14h, com a mesa "Identidades e identificações amazônicas. Serão apresentados nelas os seguintes trabalhos: “Vivos e mortos na necrópole, reflexões sobre documento, arquivo e subalternidades no livro Belém do Grão-Pará”, por Brenda Taketa (PPDSTU/Naea/UFPA); “Imagem e intersubjetividade na produção fotográfica belemense”, por Marina Neves de Castro (Facom/PPGA/UFPA); “Fenomenologia da memória: deslocamento compulsório e trauma”, por Jorge Santos das Mercês (PPDSTU/Naea/UFPA); “Festas da comunidade São Joaquim em Mocajuba (PA): primeiras reflexões sobre o mundo da vida de camponeses agroextrativistas”, por Vitória Mendes (PPDSTU/Naea/UFPA); “Festas pretas: um ensaio autoetnográfico sobre a sociabilidade e identificações da juventude negra em Belém do Pará”, por Tainá Barral (Facom/UFPA); e “Identificações e vitalidade social na festa de carimbó de Santarém Novo”, por Lázaro Araújo (PPGCOM/UFPA).

A última mesa, "Cultura e pensamento", será composta pelas apresentações de dois livros Cultura nas Cidades e As Identificações Amazônicas. O primeiro foi organizado pelo professor Fabio Fonseca de Castro e publicado pela Fundação Perseu Abramo. Ele será ofertado aos inscritos no seminário.  Editado pelo Naea, o segundo livro será apresentado no dia e lançado durante o “II Simpósio Internacional Interdisciplinaridade, Sustentabilidade e Desenvolvimento”, previsto para o período de 5 a 7 de dezembro, também no Auditório Armando Mendes, do Núcleo.

Sobre o SISA - O SISA reúne docentes e alunos de doutorado, mestrado e graduação com perspectiva interdisciplinar centrada em dois programas de pós-graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA): o Programa em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido (PPGDSTU), sediado no Naea, e o Programa Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM), sediado no Instituto de Letras e Comunicação (ILC).

O grupo reúne docentes e alunos de doutorado, mestrado e graduação, organizando atividades de pesquisa, difusão científica, formação, orientação e extensão. Em torno dos seus eixos temáticos - Socialidades, Intersubjetividades e Sensibilidades – e com interesse centrado na compreensão do espaço amazônico, o SISA tem três linhas de pesquisa: 1) Ciências sociais compreensivas, fenomenológicas e hermenêuticas; 2) Desenvolvimento endógeno e experiência social na Amazônia; 3)  Experiência social e processos intersubjetivos.

Texto e arte: Divulgação NAEA.


VII Jornada de Ecologia Aquática e Pesca


quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Livro digital sobre Agroecologia está disponível para download



O livro “Trajetória das ações em Agroecologia na Embrapa Meio Ambiente” está disponível em formato digital para acesso livre. Segundo os pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e editores técnicos do livro, Mário Artemio Urchei e João Carlos Canuto, “a obra reflete uma pequena porção do trabalho de pesquisa e desenvolvimento no foco da Agroecologia realizado na Embrapa Meio Ambiente.

Apresenta exemplos que ilustram o desenvolvimento do tema na nossa Unidade, como material sobre o qual o leitor possa compreender a forma de trabalhar da Equipe de Agroecologia, aliando os elos indissociáveis da construção e da apropriação social do conhecimento".

Dessa forma, continuam, esses relatos e reflexões dão conta de novas formas de abordagem conceitual e metodológica para a pesquisa-ação participativa. Para tanto, os exemplos convergem no sentido de mostrar as conexões entre o conhecimento ancestral, resgatado e reconstruído, e a pesquisa clássica, igualmente ressignificada por meio do enfoque transdisciplinar.

Conforme os editores, "a Agroecologia, mais que um conjunto de técnicas, apresenta-se como uma alternativa comprovadamente viável para substituir o modelo agrícola hegemônico, oferecendo um importante instrumental para o avanço técnico, a viabilidade econômica e a inclusão social".

O livro apresenta, assim, desde uma contextualização histórica até a aplicação dos princípios agroecológicos à realidade de distintos contextos locais e regionais, retratando a unidade e a sua inelutável diversidade.


Fonte: www.embrapa.br.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

I Dia de Campo em Ranincultura (MG)


Participe do 1ª Dia de Campo em Ranincultura que ocorrerá no dia 01 de Dezembro no Campus Glória da Universidade Federal de Uberlândia. As inscrições são gratuitas, sendo 30 vagas! Aproveite e entre logo em contato para garantir sua vaga.

Todas informações estão disponíveis no cartaz, aproveite também para seguir o instagram do grupo ranicultura.ufmg.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Curso presencial de Piscicultura e Malacocultura

Criação de Beijpirá. Foto: Redemar Alevinos.
O IPEMAR (Instituto de Pesquisas Marinhas, Arquitetura e Recursos Renováveis) irá oferecer nesse mês de outubro um curso livre na área de maricultura.
O “Curso de Maricultura com foco em Piscicultura e Malacocultura” será ministrado no período de 15 a 19 de outubro de 2018, na Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ. A iniciativa conta com o apoio da Revista Aquaculture Brasil,  da Associação de Maricultores da Baia da Ilha Grande (AMBIG) e da Maricultura Costa Verde (empreendimento local).
Local: Enseada do Bananal, Ilha Grande, Angra dos Reis, RJ.
Objetivos: abordar aspectos teóricos e práticos do cultivo da espécie Nodipecten nodosus (vieira) e criação do Rachycentron canadum (bijupirá), abarcando temas como a produção de formas jovens, engorda, manejos, mercado para comercialização e noções administrativas-legais (viabilidade financeira, licenciamento ambiental etc.).
Metodologia: Base teórica e atividades práticas – visitas a laboratórios de produção de formas jovens, visitas a fazendas de produção e realização de manejos.
Público-alvo: Estudantes universitários de cursos de aquacultura, oceanografia, biologia, profissionais da área, maricultores, técnicos e interessados em geral no tema e prática da maricultura.
Inscrição: através do e-mail cursos@ipemar.org.br.
Maiores informações acesse o link AQUI.

Embrapa faz parceria para desenvolver ração específica para pirarucu

Atualmente pirarucus consomem rações de outras espécies carnívoras - Foto: Jefferson Christofoletti

A Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO) vai desenvolver uma ração específica para pirarucu, por meio da uma parceria público privada com a empresa Peixes da Amazônia e o governo do Acre. Atualmente as rações disponíveis são baseadas em fórmulas designadas para outras espécies carnívoras. A expectativa é de que, com uma formulação específica para o pirarucu, ele tenha um melhor desenvolvimento. O trabalho deve durar 14 meses. “Estão envolvidos nessa parceria a empresa, que é uma sociedade anônima com 21 sócios, incluindo piscicultores, e o governo do Acre, também disposto a investir na iniciativa. A vantagem é que ela poderá ser produzida em uma planta industrial e poderemos acompanhar o desenvolvimento dos peixes depois”, detalha Alexandre Aires de Freitas, chefe geral interino da Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO). 

Houve uma busca ativa por fabricantes de ração que estivessem interessados em desenvolver a fórmula em conjunto com a Embrapa, e a Peixes da Amazônia foi uma das primeiras a demonstrar interesse. “Essa parceria é um desdobramento do projeto anterior, o Pirarucu da Amazônia, que contou com a participação do Sebrae e do extinto Ministério da Pesca”, explica Freitas
Atualmente há mais duas empresas, uma de Tocantins outra de Rondônia, em fase de negociações.  O papel da Embrapa será oferecer o know how para validação do produto, uma vez que a Embrapa dispõe de dados sobre digestibilidade e exigência de aminoácidos essenciais do pirarucu. “Estamos abertos a outras parcerias para fabricação de ração”, informa Freitas.
Fonte: www.embrapa.br.

Pesquisa internacional indica insetos para alimentar peixes e aves

Dieta para peixes e aves a base de insetos. Foto: Fernando Sinimbu.

É possível substituir gradualmente a ração convencional de peixes e aves, à base de farinha de peixe e farelo de soja, por uma dieta equilibrada com insetos. Cientistas brasileiros e de Camarões, na África Central, comprovaram essa viabilidade em uma pesquisa conjunta que acaba de ser concluída. Eles estão trabalhando para que insetos como o besouro tenébrio (Tenebrio molitor), o grilo-preto (Gryllus assimilis) e a mosca soldado negra (Hewrmetia illucens) sejam alimentos alternativos para aves e peixes criados em cativeiro na agricultura familiar. A criação de insetos na propriedade ainda pode ser integrada à produção de fertilizantes por meio da decomposição de matéria orgânica realizada por suas larvas.

Em todos os experimentos conduzidos no Brasil e em Camarões, com frango de corte, bagre africano (Clarias gariepinus) e tilápia (Oreochromis niloticus), os percentuais de farinha de insetos introduzidos na ração desses animais e a aceitação foram expressivos. Na ração para o bagre africano, foram introduzidos 60% de larva de mosca soldado negra. Já na dieta de frango de corte e tilápia, os pesquisadores substituíram 15% do ingrediente proteico por larva de mosca soldado negra.

“Esses resultados mostram que estamos no caminho certo na busca de alternativas alimentares sem impactos negativos para a piscicultura e para a avicultura”, diz a pesquisadora Janaína Kimpara, da Embrapa Meio-Norte (PI), que coordenou a pesquisa. “Precisamos agora avançar nos estudos para que as rações de peixes e aves possam receber percentuais maiores ainda de insetos, iniciando assim um novo ciclo alimentar nas pequenas propriedades”.

Impactos ambientais e econômicos

Insetos. Foto: Fernando Sinimbu.
A cientista da área de aquicultura revela três questões importantes para defender a médio prazo a inserção de insetos na alimentação de peixes e aves. A primeira é a ambiental: os insetos substituem parte das rações à base de soja empregadas na alimentação de frango, bovinos, suínos, caprinos e ovinos, o que reduz a pressão para o aumento das áreas plantadas. Para a ração de algumas espécies carnívoras de peixes em cativeiro é comum o uso da farinha de peixe, elaborada com animais pescados. O impacto negativo desse produto, segundo a pesquisadora, é a pesca predatória que não respeita a fase de reprodução dos animais. O perfil de aminoácidos da farinha de insetos em geral, comprovado no estudo, de acordo com a pesquisadora, é semelhante ao da farinha de peixe encontrada no mercado.

Outro ponto positivo é que a dieta de insetos é mais econômica. “Ela possui aspectos que são a base de sobrevivência da pequena propriedade, como o equilíbrio entre produtividade, fácil manutenção, pouca mão de obra e insumos”, afirma a cientista, que estuda também a possibilidade da reciclagem de resíduos, como restos de alimentos domésticos ou produtos não vendidos. Segundo Kimpara, outro fator importante é o custo de importação da ração, muitas vezes inviável para pequenas comunidades no Brasil e em países da África.

A segurança alimentar é a terceira questão que fundamenta a viabilidade da ração feita com insetos, no entender da cientista. “É importante que o produtor saiba que tipo de ração está dando para seus animais”, recomenda.

Insetos podem decompor resíduos

Para entender esse trabalho dos pesquisadores no Brasil e na África é preciso conhecer o ciclo de vida dos insetos, o abate deles e o preparo da ração. A mosca soldado negra, que foi a espécie mais trabalhada na pesquisa, tem um ciclo de vida curto: 15 dias. Da eclosão dos ovos, passando pela fase de larvas – que podem atingir até 27 milímetros – até o ponto de abate, seu desenvolvimento é muito rápido.

A mosca soldado negra tem importância ambiental e econômica. Sua larva é considerada uma grande recicladora de resíduos orgânicos, segundo a pesquisadora. “Em até 15 dias, aproximadamente 45 mil larvas consomem 108 quilos de esterco suíno, que é um problema ambiental e econômico. Os resíduos desse consumo servem para a fertilização de plantações”, explica.

Já no caso do grilo-preto, do ovo até a ninfa, o tempo é de dois meses, quando ele pode ser abatido e virar componente de ração. O tenébrio, também conhecido como bicho-da-farinha, é o inseto que leva mais tempo até chegar ao ponto de abate: seis meses. Na fase adulta ele mede de 12 a 18 milímetros. Livre na natureza, o tenébrio consegue viver de um a dois anos.

“Para alimentar frangos, os insetos são abatidos em água fervente, secos em estufa ou micro-ondas e depois moídos. Em seguida, a farinha é misturada ao farelo de soja ou milho moído, mistura de vitaminas e minerais e disponibilizado para o consumo das aves”, conta Kimpara.

O preparo muda na elaboração da ração de peixes. “Mistura-se farinha de insetos, água, milho moído, óleo de cozinha, vitaminas e minerais. Depois, é só misturar e passar em um moedor de carne para aglutinar os ingredientes, e está pronta a ração”, ensina. A cientista reconhece que hoje no Brasil o grande desafio é conscientizar os produtores sobre a possibilidade do uso de insetos na alimentação animal, a partir de resíduos orgânicos. “Assim, será possível produzir farinha de insetos em larga escala, com qualidade e segurança”, assegura a pesquisadora.

Rede de pesquisa internacional

Além da participação efetiva do pesquisador Paulin Nana, da Universidade DSchang, em Ebolowa, nos Camarões, a pesquisa, financiada pela Fundação Bill e Melinda Gates, recebeu a contribuição de professores e estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e da Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Márcio Alves, entomologista lotado no campus da Uespi no município de Parnaíba, trabalhou os aspectos biológicos, ecológicos e comportamentais dos insetos, buscando melhorar a criação e o aperfeiçoamento deles como ração.

Antônio Hosmylton, também professor da Uespi em Parnaíba, foi responsável pela avaliação bromatológica dos insetos usados na pesquisa, uma área, segundo ele, fundamental no suporte à dieta de acordo com a fase de vida do peixe ou da ave. O cientista conta que a composição bromatológica do enébrio, por exemplo, apresenta um bom balanço aminoacídico, vitamínico e mineral. O estudo demonstrou que esse inseto apresenta 52,8% de proteína bruta.

Embora considerando os insetos excelentes fontes de proteínas sustentáveis, o professor ainda não vê a possibilidade a curto e médio prazo de a ração tradicional ser substituída 100% por uma dieta alternativa, como a formada por insetos. “Essa substituição total ainda está longe de acontecer. Ainda existem muitos insetos a serem descobertos e estudados, bem como muitos peixes para serem trabalhados”, justifica.

Do campus da UFPI no município de Bom Jesus, onde foram estudadas a composição química e a digestibilidade de três tipos de farinha de insetos, vem mais otimismo. A professora Leilane Dourado garante que a viabilidade nutricional dos insetos é adequada e eles podem ser incluídos nas dietas para aves. Os preços e a baixa produção de insetos para essa finalidade, no entanto, impedem no momento o avanço do uso dessas rações alternativas, de acordo com a especialista.

O professor Paulo Henrique Sousa, da Universidade Federal do Ceará (UFC), vê a ração de insetos como um grande potencial para a complementação proteica na alimentação de peixes e aves. “É importante ressaltar a biodisponibilidade dessas proteínas e sua qualidade. Os insetos são uma boa fonte de minerais e ácidos graxos”, declara.

Na visão dele, a agricultura familiar poderá se beneficiar desse estudo, já que os insetos podem ser coletados na natureza ou mesmo ser produzidos em cativeiro, com baixo custo.


Mosca doméstica na ração animal
A primeira pesquisa com insetos para a alimentação animal conduzida pela Embrapa no Piauí foi em 2012. Usando larvas de moscas domésticas (Musca domestica Linanaeus) como complemento alimentar de galinhas caipiras, frangos, codornas, peixes e camarões, o pesquisador Luiz Carlos Guilherme testou com sucesso esse inseto no Sistema Integrado para Produção de Alimentos (Sisteminha Embrapa). Nesse experimento, chegou-se a produzir cerca de cinco mil moscas em uma gaiola telada. O resultado foi a produção diária de um quilo e meio de larvas, que consumiam farelo de trigo com cerca de 15% de proteína bruta. As larvas foram usadas na alimentação de camarões marinhos adaptados à água-doce.


Produtor aprova

O casal Michael Lark, 64 anos, marceneiro nascido na Austrália, e Augusta Costa, 52 anos, carioca e artesã, está testando e aprovando a ração de insetos de acordo com a orientação da Embrapa. Instalados há seis anos no Sítio Caripina, a cinco quilômetros do centro de Parnaíba, eles vêm alimentando o plantel de galinhas caipiras há pelo menos um ano com larvas de besouro tenébrio e farelo de milho.

Os resultados são bons, segundo a artesã. A alimentação alternativa com insetos não mexeu com a dinâmica das aves, que são criadas para a produção de ovos para venda. “As nossas aves se adaptaram muito bem a essa nova ração, que, ao meu ver, só tem a crescer”, afirma. Para ela, além de reduzir os custos, o uso de insetos na ração das aves aumenta a qualidade da alimentação, com mais proteína, o que traz mais benefícios aos animais.

Gerente da propriedade que também produz pães integrais e geleias, Augusta Costa acredita na proposta: “A tendência é que haja um aumento gradativo no uso de insetos na ração de peixes e aves. Não acredito que haverá uma troca total de outros componentes da ração animal, como farelo de soja e de trigo, por exemplo. Principalmente porque não existe ainda uma grande divulgação dessa nova tecnologia. Mas à medida que a população tomar conhecimento, eu acho que a tendência será o aumento do uso dessa ração”, acredita.

O comércio de insetos no Brasil
Em crescente expansão, o comércio de insetos para compor ração animal no País não é de agora. Estabelecido no Recife (PE) há 11 anos, o técnico em contabilidade Ginaldo Menezes foi um dos pioneiros no Brasil e o primeiro do Nordeste a vender insetos. “Já fui criador de pássaros e percebi que faltava no mercado proteína viva para completar a alimentação de animais. Por isso apostei nesse tipo de comércio”, relembra.

A aposta de Menezes venceu. Ele criou a marca Insetos Brasil. Todo mês a empresa vende dezenas de quilos de insetos e o faturamento líquido chega perto de R$ 30 mil.  O quilo do besouro tenébrio ou do grilo-preto é vendido a R$ 300,00. O estado de São Paulo é o maior comprador, segundo ele. Os animais são comercializados vivos, abatidos e congelados ou desidratados.

A ração tradicional e já consolidada no mercado tem preços estáveis. O quilo da farinha de peixe é vendida em média a R$ 2,50. Já o quilo do farelo de soja custa na maioria dos estados R$ 2,00, enquanto o quilo do farelo de trigo sai por R$ 1,25. O menor preço praticado principalmente no Nordeste é o de farelo de milho: R$ 1,05.

O País já tem até uma Associação Brasileira de Criadores de Insetos (ASBRACI). Com sede na cidade de São Paulo, a entidade reúne hoje 356 associados, a maior parte, paulista. Minas Gerais está em segundo lugar. O biólogo Casé Oliveira, fundador e atual presidente da associação, prevê mais crescimento na produção, já que a inclusão de insetos na ração também de gatos, cães e suínos cresce em praticamente todo o País. “É um bom negócio”, garante.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) já alertou o mundo para previsão populacional do planeta em 2050, que abrigará mais de nove bilhões de seres humanos. A sugestão da entidade é que os países, principalmente os mais pobres, vejam os insetos como alternativa alimentar. Hoje, eles já estão na mesa de famílias da Ásia, África e América do Sul. Os insetos mais consumidos no mundo são besouros, lagartas de mariposas, grilos, formigas e moscas.

Fonte: www.embrapa.br.

sábado, 29 de setembro de 2018

Projeto cria programa de incentivo para pequena agroindústria familiar

O objetivo é incentivar o beneficiamento e o processamento industrial da produção agropecuária pelos agricultores familiares e pesqueira


A Câmara dos Deputados está analisando o Projeto de Lei 10066/18, que institui o Programa de Fomento e de Desenvolvimento da Pequena Agroindústria Familiar e Pesqueira (Propagro).

Apresentada pelo Deputado Pedro Uczai, a proposta tem o objetivo de incentivar o beneficiamento e o processamento industrial da produção agropecuária pelos agricultores familiares, suas associações e cooperativas, facilitando o acesso desses produtos aos mercados institucionais.

Pelo projeto, caberá à Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário a gestão do programa. O órgão vai coordenar a elaboração de planos plurianuais e estabelecerá as metas anuais a serem alcançadas pelo programa. O texto assegura também a participação das entidades de representação da Agricultura Familiar de caráter nacional na elaboração dos planos.

Ainda conforme o texto, serão instrumentos do Propagro: a Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater); o financiamento com recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) à produção e aos bens e serviços indispensáveis aos processos de agroindustrialização; o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

“É claro que o Pronaf já inclui entre as suas linhas de financiamento atividades de processamento e industrialização da produção agropecuária realizadas nos estabelecimentos familiares”, explica o deputado. “Contudo, além da pequena escala, os financiamentos do gênero ocorrem de forma fragmentada e concentradas mais na região sul do Brasil”, complementa.

Planos Safras

Segundo a proposta, os Planos Safras da Agricultura Familiar definirão o montante dos recursos do Pronaf a serem destinados ao Propagro a cada ano; as metas da Ater; e o volume de produtos a serem adquiridos no âmbito Programa de Aquisição de Alimentos e do PNAE.

O Poder Executivo definirá as bases e as condições dos financiamentos no âmbito do programa, ficando asseguradas condições diferenciadas para os assentados em projetos de reforma agrária, comunidades extrativistas e tradicionais.

Tramitação

O projeto será analisado, em caráter conclusivo, ou seja  o recurso só será votado pelas comissões designadas para analisá-lo, dispensada a deliberação do Plenário.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Mais competitividade para tilápia

Laudo elaborado pela Embrapa Pesca e Aquicultura viabiliza drawback para exportação


A Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO) elaborou um laudo técnico que vai viabilizar a isenção de impostos federais como Imposto de Renda, IPI, PIS e Cofins  na compra de insumos utilizados na produção de tilápia para exportação. 
A prática da chamada drawback – comum no mercado de suínos e aves – agora será possível também para a comercialização do peixe no mercado externo. O laudo com a planilha de equivalência de insumos foi aprovado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e será utilizado na concessão do benefício aos exportadores. 
Na última segunda-feira (24) houve uma reunião em Brasília com representantes do MDIC, Embrapa, Associação Brasileira de Piscicultura PeixeBr e exportadores para verificar como a desoneração ocorrerá na prática. Com a medida, o produtor ganhará mais competitividade no preço do seu produto no mercado externo. As empresas associadas interessadas em ter essa isenção já podem fazer o cadastramento no site do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Segundo Manoel Xavier Pedroza Filho, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura responsável pelo estudo, a desoneração fiscal deve promover uma redução de até 26% nos custos com ração importada – insumo de maior impacto nos custos de produção. Se for comprada no mercado interno, a redução será de aproximadamente 10%. “Adaptamos a planilha desenvolvida pela Embrapa Suínos e Aves para a exportação de tilápia”, detalha ele.

Pela planilha é possível saber a quantidade de insumos utilizados para produzir o volume que será exportado, possibilitando, assim, determinar o quantitativo de insumos que terão os impostos desonerados. “Estão incluídos os alevinos, a ração utilizada nas diferentes fases de crescimento do peixe e as vacinas”, afirma Pedroza. Se o produtor fabrica sua própria ração, estão especificados na planilha todos os ingredientes empregados na fabricação do produto.

Atualmente os Estados Unidos são o maior importador de tilápias do Brasil, principalmente dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. O drawback é utilizado em diversos produtos de exportação. Segundo dados do Sistema Integrado de Comércio Exterior – SISCOMEX, 22,7% dos 186 bilhões de dólares originários da exportação em 2016 foram por meio de drawback
No caso do alumínio bruto, por exemplo, as exportações por meio desse benefício fiscal atingiram 99,8% do volume total em 2014. No setor agropecuário, 58% das exportações de celulose foram por meio da desoneração fiscal. No caso da carne de frango, esse valor chega a mais da metade do total exportado: 67 %. Ano passado a tilápia rendeu ao Brasil U$ 4.700 mil do mercado externo. “Essa é mais uma conquista para a piscicultura brasileira e a Peixe BR orgulha-se de ter participado ativamente dessa negociação”, comemora o presidente da Associação, Francisco Medeiros.
Pedroza (o primeiro, à esq.) ao lado de produtores e representantes do MDIC e da PeixeBR.

Fonte: 
www.embrapa.br.