domingo, 20 de agosto de 2017

Criação de peixes em “caixas d’água” – nova moda entre os iniciantes



Felizmente a produção de proteína aquática tem despertado cada vez mais interesse na sociedade, especialmente daqueles que não são proprietários de terras e que mesmo assim vislumbram potencial econômico na criação de peixes. Acontece que estão interpretando de forma equivocada alguns sistemas novos que permitem a prática da aquicultura intensiva sem a necessidade de estarem na zona rural. Portanto, o objetivo deste artigo é elucidar algumas questões bem simples, mas que são fundamentais na tomada de decisão antes de investir na atividade.

É possível? Sim, já temos pacote tecnológico estabelecido sobre o assunto.

É viável? Viabilidade é a somatória de técnicas + empreendedorismo. Ou seja, não basta produzir de forma eficiente! Também se faz necessário administrar bem o negócio e, acima de tudo, ter uma boa estratégia de escoamento da produção.

É fácil? Não! Nem fácil e nem simples. Produção de peixes em sistemas de recirculação de água se configura na forma mais complexa de se produzir peixes. Extremamente não recomendável para quem nunca produziu peixes.

Dá para usar água da rua? Sim, desde que antes de ir para os peixes esta água fique por pelo menos 24 horas em circulação para que o cloro seja volatilizado.

Não se trata de um artigo do tipo perguntas e respostas, mas foi proposital começar respondendo aos principais questionamentos sobre esta modalidade de cultivo. Também foi colocado propositalmente no título “Caixas D’água” entre aspas por que esta não é a forma correta de designar o sistema. A forma correta seria: Criação de organismos aquáticos em Sistema de Recirculação de Água. Conforme o ponto de vista, até pode parecer a mesma coisa. Mas dentro da ótica que muitas pessoas interessadas neste sistema de cultivo estão interpretando, não é.

Quando se fala em caixas d’água logo se imagina um “sisteminha” com meia dúzia de caixas de mil litros, onde os interessados em iniciar neste sistema usam os índices de produtividade dos sistemas de recirculação de água. Logo, o “espaçoso” quintal de casa pode se transformar numa bela unidade produtora de peixes. Evite as certezas. Desconfie de si mesmo. Quando algo lhe parece muito óbvio, ou alguém já está fazendo ou muitos já tentaram e não deu certo.

Numa era globalizada, com acesso a todo tipo de informação, onde a competitividade em todos os segmentos comerciais é acirrada, não podemos acreditar ser possível produzir peixes de forma comercial em uma pequena área, com baixo investimento, pouca dedicação, pequena estrutura e sem ter conhecimento técnico sobre o assunto. Portanto, a primeira recomendação é: produções comerciais em sistemas de recirculação bem montados e bem conduzidos, são possíveis sim e viáveis. Enquanto que produções de peixes em “caixas d’água”, comercialmente falando, é ilusão.

Inclusive, no quadro de colunistas da Aquaculture Brasil existem experts quando o assunto é criação intensiva em sistemas de recirculação de água (RAS). Neste sentido, não me atreverei a explicar ou recomendar como deve ser uma criação comercial neste sistema. Mas faço questão de registrar o quanto acredito nesta técnica de cultivo; onde, num futuro bem próximo, vislumbro como sendo uma das formas mais eficientes zootecnicamente e mais sustentáveis ambientalmente de se produzir alimentos.

A abordagem deste artigo até pode ser extremamente básica para os leitores deste jovem e já reconhecido meio de comunicação do universo aqua. Acontece que tão importante quanto falarmos de tecnologias inovadoras é apresentarmos a realidade das atuais tecnologias disponíveis. Neste sentido, todos que se dedicaram a leitura deste, de alguma forma possuem a capacidade de formar opinião dentro do segmento. E aí é fundamental o entendimento que já não precisamos mais estimular a entrada de novos produtores de organismos aquáticos. O que precisamos é de AQUICULTORES!!! Ou seja, profissionais/empresários dispostos e produzirem com profissionalismo, seja lá qual for o sistema de produção.

Artigo escrito por Fábio Sussel, Zootecnista formado pela Universidade Estadual de Maringá, possui mestrado em nutrição de peixes pela UNESP de Botucatu e doutorado, também em nutrição de peixes, pela USP de Pirassununga.

Fonte: www.aquaculturebrasil.com.

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