quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Técnicas acústicas permitem automatizar a alimentação de peixes em instalações aquícolas


Durante quase dois anos o Ctaqua Centro Tecnológico de Aquicultura na Espanha vem trabalhando em um projeto que busca o desenvolvimento de técnicas acústicas para aprimorar os processos de alimentação em instalações aquícolas

Convencionalmente, a alimentação de peixes em viveiros é realizada manualmente, com observação direta do comportamento dos peixes. Como a intensificação da aquicultura, a alimentação vem sendo progressivamente automatizada, fazendo uso de tabelas alimentares que fornecem uma taxa diária específica de alimentos. No entanto, como se trata de organismos vivos, existem flutuações nas taxas de ingestão devido a múltiplos fatores, tornando imprevisível uma dieta diária totalmente exata. Além das despesas - a alimentação responde por 50 a 60 por cento do total  - a dosagem exata de ração comercial em todas as etapas de cultivo é importante na proteção do ambiente, bem-estar animal e qualidade da água. 

Os pesquisadores realizaram um estudo hidroacústico prévio que mostrou que técnicas passivas são mais eficazes no controle da alimentação. Estas técnicas permitiram a discriminação dos sons que os peixes fazem quando estão se alimentando. Com esta informação, a equipe do Centro de Tecnologia Marinha (um dos principais contribuidores do projeto) criou algoritmos que, em um futuro próximo, podem ser integrados a alimentadores automáticos e através de sensores inteligentes interromper o fornecimento uma vez detectado o fim da ingestão de alimentos.

Especificamente, o trabalho foi realizado em estuários onde o pargo (Sparus aurata) é cultivado. Este trabalho do Ctaqua é parte do projeto "Sistema não-invasivo para determinar biomassa total em sistemas de produção de peixe", que também tem como objetivo desenvolver e impulsionar tecnologias existentes para saber o número exato e o tamanho do peixe a ser cultivado em um estuário. Os resultados desses dois anos de duração do projeto, financiado pela Secretaria do Governo Autónomo da Andaluzia, serão apresentados na última semana de novembro em uma conferência a ser realizada nas instalações Ctaqua, em Puerto de Santa María. Essa sessão contará com a participação de todos os peritos que contribuíram para esta pesquisa, entre os quais estão o Departamento de Biologia Vegetal e Ecologia na Universidade de Sevilha e do Centro de Tecnologia Naval e Marinha.

Saiba mais sobre o projeto AQUI.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Codevasf irá participar de XIX Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca (CONBEP)



O assessor da Área de Revitalização das Bacias Hidrográficas da Codevasf, Albert de Sousa Rosa, da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), será um dos conferencistas do XIX Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca (CONBEP), com o tema “Exploração Sustentável do Caranguejo-Uçá do Delta do Parnaíba”. O evento será realizado no período de 4 a 8 de outubro, na cidade de São Luís (MA) e terá como tema principal “Engenharia de Pesca: transformando os recursos aquáticos em benefícios para a humanidade”.
Albert Rosa apresentará os resultados do projeto de industrialização do caranguejo-uçá do Delta do Parnaíba, implementado por esta empresa e pelo Instituto Ambiental Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade – IABS, contando com a participação de consultores internacionais com experiência em industrialização de caranguejos.
A tecnologia desenvolvida pela Codevasf está disponível, no livro “Industrialização do Caranguejo-Uçá do Delta do Parnaíba”, a empreendedores interessados em fortalecer a atividade extrativista e contribuir para a organização e a sustentabilidade dessa importante cadeia produtiva da região Nordeste.
O diretor da Área de Revitalização das Bacias Hidrográficas da Codevasf, Eduardo Motta, ressaltou que a industrialização do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba é uma importante alternativa para estimular a exploração sustentável e agregar valor ao produto final, beneficiando cerca de 4,5 mil profissionais que vivem da captura e da comercialização desse crustáceo nos estados do Maranhão e do Piauí.“A Codevasf apoia a estruturação dessa cadeia produtiva com ações que buscam o desenvolvimento sustentável da atividade”, acrescentou.
Cursos e congressos desenvolvem a aquicultura e a pesca no Brasil
A programação técnico-científica do evento será composta por 18 conferências, 13 mesas-redondas e 11 minicursos. Esta semana, o diretor Eduardo Motta recebeu o presidente da Federação Nacional dos Engenheiros de Pesca do Brasil (FAEP-BR), Eliseu de Brito, que veio agradecer a confirmação da participação da empresa no Congresso.
De acordo com Elizeu de Brito, o país conta com 22 cursos de engenharia de pesca e cerca de 5 mil profissionais formados, que vêm ajudando de forma decisiva no desenvolvimento da aquicultura e da pesca no Brasil. Elizeu complementou que, paralelamente ao congresso, será realizado o I Workshop de Avaliação de Estoques e Estatística Pesqueira; o II Workshop sobre Assistência e Extensão Pesqueira; o I Seminário de Desenvolvimento Tecnológico e Manejo do Caranguejo-Uçá no Maranhão; o Encontro Nacional dos Diretores/Coordenadores dos Cursos de Engenharia de Pesca e a Expo CONBEP: Feira da Pesca e Aquicultura, que irá expor produtos e serviços das principais empresas e instituições envolvidas com o setor pesqueiro e aquícola do país.

Merendeiras farão capacitação para preparo de peixe

Foto: Parceria vai capacitar trabalhadores do setor pesqueiro
Divulgação/EBC
Merendeiros das escolas públicas de todo o Brasil poderão fazer curso de capacitação para o preparo de peixe. A possibilidade parte de um acordo de cooperação entre o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e o Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi).

O acordo vai permitir estender a esses profissionais um treinamento que já é feito para os cozinheiros do Amazonas, do Pará, da Bahia, do Ceará, do Distrito Federal, de São Paulo e de Santa Catarina.

A capacitação dos trabalhadores da cadeia do atum e afins e dos futuros colaboradores dos Distritos Industriais Aquícolas (DIA) também foi contemplada no acordo de cooperação.

Os Distritos Industriais Aquícolas têm a proposta de maximizar o funcionamento de uma cadeia produtiva aquícola regional com centro de alevinagem, fábrica de gelo e de ração, fornecedores de equipamento, unidade de beneficiamento, entre outros.

A medida estabelece que, em 15 dias, o Comitê Gestor, integrado por técnicos do MPA e do Sesi, fará um plano de trabalho que norteará as ações desenvolvidas, em conjunto, no sentido de que os objetivos do acordo sejam alcançados.

Os cursos de capacitação estão inseridos na estratégia do Plano de Desenvolvimento da Aquicultura Brasileira (PDA), lançado na última terça-feira (22).


Projeto Tamar comemora 35 anos com nova geração de tartarugas

De 2010 a 2015, o número de filhotes cresceu 86,7%
em relação ao quinquênio anterior 
Arquivol/Agência Brasil
Uma nova geração de tartarugas marinhas adultas passou a ocupar as praias e ilhas brasileiras nos últimos cinco anos. De acordo com dados analisados pelo Projeto Tamar, criado há 35 anos para proteger as espécies que passam pelo Brasil, de 2010 a 2015, houve crescimento de 86,7% no número de filhotes nascidos em relação ao quinquênio anterior.

“Estamos festejando o aparecimento dessa nova geração em idade reprodutiva. Isso praticamente dobrou a população de tartarugas marinhas no Brasil”, disse o coordenador-geral e um dos fundadores do projeto, o oceanógrafo Guy Marcovaldi. Segundo ele, os números comprovam o início da recuperação dessas espécies, mas não significam que a ameaça de extinção acabou. “Quando o Tamar completar 70 anos, teremos um número bom, porque será segunda geração de tartarugas, uma sobre a outra.”

De acordo com o pesquisador, quando o projeto começou, a tartaruga era um prato de comida, e a matança de fêmeas e o consumo dos ovos tinham praticamente interrompido o ciclo de vida desses animais. No primeiro ano de atividade, em 1980, o Tamar ajudou a salvar 2 mil tartarugas. Na temporada de desovas de 2013-2014, foram mais de 2 milhões de filhotes protegidos.

Estima-se que 7.350 tartarugas fêmeas estiveram em processo de reprodução no Brasil no último ano. Marcovaldi explica que as tartarugas são animais de vida longa e demoram 30 anos para atingir a idade adulta. Por isso, os resultados de trabalhos de conservação demoram a aparecer.

Nos últimos 35 anos, o Tamar protegeu mais de 20 milhões de filhotes. “Mas, por fatores naturais, apenas um ou dois em cada mil sobrevivem no mar”, explica Marcovaldi. No Brasil, as principais ameaças à recuperação das tartarugas são as redes de pesca, os anzóis e a poluição dos oceanos.

Marcovaldi destaca que o esforço de proteção dessas espécies precisa ser mundial, pois são animais que viajam por longas distâncias. “As nossas tartarugas migram para a África, Oceania, América do Norte e Ásia. Então, como num trabalho do Itamaraty, essas populações precisam ser reconhecidas como ameaçadas por todos os países que compartilham essas espécies com o Brasil.”

Das sete espécies de tartarugas marinhas existentes no mundo, o Tamar pesquisa e protege as cinco que vêm ao Brasil, todas ameaçadas de extinção: a cabeçuda, de pente, verde, oliva e de couro. Segundo o coordenador-geral do Tamar, a espécie mais vulnerável no Brasil é a tartaruga-de-couro, que vive no Espírito Santo. “Mas, em termos mundiais, a pior é a tartaruga-pente, que tem o casco extraído para fazer jóias. Até hoje os japoneses continuam insistindo nessa prática”, lamenta.

Além de monitorar a postura dos ovos, os cientistas do projeto observam o comportamento e coletam material biológico para análise genética das tartarugas. Tanto nas áreas de desova como nas de alimentação, animais são marcados com transmissores de metal nas nadadeiras que permitem o estudo do deslocamento e dos hábitos, bem como de dados sobre crescimento e taxa de sobrevivência.

Marcovaldi estima que cerca de 50 mil tartarugas foram marcadas desde que o projeto começou. Os dados constam no Sistema de Informação sobre Tartarugas Marinhas e ajudam a melhorar as estratégias de recuperação das espécies. “Costumo dizer que saímos da terceira divisão na conservação e pesquisa das tartarugas, no início da década de 80, e hoje estamos entre os cinco primeiros colocados no mundo, na primeira divisão de tartarugas marinhas do mundo, disputando com Austrália, Costa Rica, Estados Unidos e México.”

Geração de empregos e financiamento

O Projeto Tamar atua em 25 localidades ao longo de mais de 1.100 quilômetros de praias, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas da Bahia, de Sergipe, Pernambuco, do Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, de São Paulo e Santa Catarina.
De acordo com Marcovaldi, mais de 1.800 pessoas trabalham no projeto, que prioriza a colocação de pessoas da região, em especial as de classe baixa e que trocaram a prática de matar tartarugas por viver da imagem delas. “Nós chamamos de uso não letal, quando as pessoas param de vender carne e ovos de tartarugas, mas continuam vivendo delas, mas sem matar. Por exemplo, fabricando camisetas, vendendo artesanato e imagens de tartarugas.”

O projeto também capacita cerca de 200 estagiários de universidades brasileiras e estrangeiras nas áreas de Biologia, Engenharia de Pesca, Medicina Veterinária e Oceanografia por ano.

O Tamar tem nove centros de visitação nas regiões litorâneas com potencial turístico. De acordo com o Formulário de Visitação Anual, do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), os centros da Bahia e de Santa Catarina estão entre os museus mais visitados do Brasil.

“No ranking de museus mais visitados do país, o Projeto Tamar encabeça a lista em quase todas as regiões brasileiras onde temos centros para visitação. Só perdemos para museus famosos de São Paulo e para o Cristo Redentor, no Rio”, afirma Marcovaldi.

Os centros têm tanques e aquários, painéis informativos, espaço para exposições e palestras e lojas para venda de produtos e respondem por parte relevante do orçamento do projeto. “A primeira fonte de renda do Tamar vem da produção e venda dos produtos da marca,  responsável por cerca de 40% dos recursos do projeto”, conta Marcovaldi, que não revela o orçamento anual do projeto.
O Projeto Tamar é uma cooperação entre o Centro Tamar, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e a Fundação Pró-Tamar, instituição privada sem fins lucrativos. A Petrobras é a patrocinadora oficial do projeto há 33 anos. O valor do contrato atual com a estatal, vigente de dezembro de 2014 a dezembro de 2017, é de R$ 10.846.777,06. Pelo patrocínio, a Petrobras repassou R$ 1,88 milhão em 2014 e R$ 1,15 milhão, até agosto deste ano. Recentemente, o Bradesco também tornou-se patrocinador do projeto.

O restante dos recursos vem dos governos federal e estaduais e municipais onde o Tamar atua. “O projeto hoje é uma coisa do Brasil. Já é do DNA da nossa sociedade, e graças a isso ele funciona bem“, afirmou Macovaldi.

Instrumentos de pesca descartados no oceano são 10% do lixo marinho

Foto: www.worldwildlife.org

Escondido pelo fundo azul escuro do oceano, repousa um pedaço de rede de pesca, que pode ter sido arrastado na última tempestade ou esquecido por um pescador. Enroscados nas linhas do material, estão diversos peixes, muitos deles mortos.

A cena é comum na rotina dos pesquisadores de São Paulo que fazem uma espécie de “faxina” no fundo do mar. A equipe atua em áreas protegidas por lei no litoral de São Paulo –onde, diz a regra, a pesca é proibida.

Para executar o trabalho, o grupo, comandado por Luiz Miguel Casarini, do Instituto da Pesca, sobe a bordo de um barco de pesquisa, zarpa em direção ao alto mar e mergulha no oceano em busca de materiais de pesca perdidos ou abandonados no mar.

O alvo são redes, anzóis, cabos de aço e linhas de pesca deixados por pescadores.

O trabalho de procura por lixo marinho esquecido por pescadores envolve material tecnológico de ponta.

Em alguns casos, antes do mergulho em si, o fundo marinho é rastreado por meio de sonares ou por um veículo submarino operado de forma remota, de dentro do barco.

Nos últimos cinco anos, foram coletadas mais de duas toneladas de redes, anzóis e materiais de pesca no fundo mar. Eles matam peixes, mamíferos e tartarugas.

Segundo Casarini, os instrumentos de pesca perdidos ou descartados no mar representam 10% do lixo marinho.

Foto: Instituto da Pesca de São Paulo.

“Não existem culpados nessa questão. O que precisamos é implantar um sistema eficiente de rastreamento dos petrechos [instrumentos da pesca] e logística reversa [processo que deve recolher o material usado pelo consumidor e devolvê-lo ao início da cadeia de produção]”, diz o pesquisador.

Ele cita o caso de um tipo de fibra têxtil sintética importada da Ásia e usada principalmente em pesca de emalhe. “O Brasil importou nos últimos anos milhares de toneladas desse tipo de material. Como não existe logística reversa para isso, o destino dessas redes poderá comprometer o ambiente.”

Um dos caminhos que está sendo trilhado pela indústria no exterior é usar as redes para fazer carpetes.

No Brasil, existem grupos que fazem artesanato com o material coletado do mar.

SALVA-VIDAS

O trabalho da equipe de Casarini muitas vezes também funciona como salva vidas. Tartarugas e peixes costumam ser encontrados ainda vivos, depois de terem sido fisgados por anzóis ou pelas redes fantasmas, que ficam vagando no mar.


Lançamento do livro “Rio Madeira – Seus peixes e sua pesca”



No dia 28 de setembro de 2015 aconteceu a videoconferência de lançamento do livro “Rio Madeira – Seus peixes e sua pesca”, organizado pelas pesquisadoras doutora Carolina Doria, docente do Departamento de Biologia da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR), e pela mestre Maria Alice Leite Lima, ambas pesquisadoras Laboratório de Ictiologia e Pesca (LIP) da UNIR.
O livro já está disponível para download grátis. Clique aqui.
Resumo do livro: a pesca na bacia do Rio Madeira, assim como em outras regiões da Amazônia, é uma atividade econômica estreitamente ligada à dinâmica do ambiente e ao modo de vida das populações ribeirinhas. Conhecer essa dinâmica e suas peculiaridades é crucial para gerar estratégias de conservação do recurso explorado, bem como para a sustentabilidade da atividade. É nesse sentido que os pesquisadores do Laboratório de Ictiologia e Pesca (LIP), da UNIR, vêm concentrando esforços.
A obra é resultado da parceria com a Santo Antônio Energia, Fundação Rio Madeira e IEPAGRO e tem por objetivo principal apresentar à sociedade informações gerais sobre o Rio Madeira, a atividade pesqueira desenvolvida na região e sua importância socioeconômica. O livro ressalta a realidade vivida pelos pescadores e ribeirinhos do Madeira antes da construção do complexo hidrelétrico na região, constituindo importante referencial diante das mudanças que poderão ocorrer na região.


Acesse outros livros em nossa página AQUI.

Prefácio do livro 

O presente livro é de leitura leve e agradável, orientado tanto para o público acadêmico como para leigos que tenham interesse mais amplo sobre um assunto tão fascinante quanto os peixes e as pescarias amazônicas.
Os jovens pesquisadores do Laboratório de Ictiologia e Pesca da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) que o escreveram, sob a segura orientação e liderança da Dra. Carolina Doria, merecem todos os elogios pela empreitada, uma vez que trabalhar de sol a sol ou debaixo de chuva na região é tarefa árdua, cansativa e às vezes perigosa, pois é difícil lidar com as corredeiras do rio Madeira, notadamente a do Teotônio, agora afogada pela barragem de Santo Antônio. Mas o entusiasmo exibido pelo dedicado grupo de pesquisa compensou todas essas agruras.
O livro tem oito capítulos, todos muito bem escritos, que compreendem o trecho do rio Madeira entre Costa Marques e Humaitá (cerca de 1000 km), descrevendo os peixes e as pescarias em seus diferentes habitats, como o próprio canal do rio, remansos, corredeiras, boca e canais de várzea e os próprios lagos. Essas pescarias são complexas, multiespecíficas, multiaparelhos, sazonais, como em toda a Amazônia, com algumas dezenas de espécies-alvo, num total estimado ao redor de mil.
O foco deste livro é a sustentabilidade, pois a pesca na Amazônia é a principal fonte de proteína para as populações ribeirinhas, cujo consumo é comparativamente altíssimo em nível mundial, chegando a 500 g/dia em algumas áreas, o que junto com a farinha lhes assegura uma dieta muito adequada. Com exceção nas grandes cheias, quando é difícil capturar os peixes, a oferta de pescado é abundante ao longo do ano e, por isso, nos vales dos grandes rios amazônicos não há fome, os rios não deixam.
Oxalá essa situação persista por muitas gerações, que a Amazônia continue a ser motivo de preocupação e orgulho para nós brasileiros que ansiamos por sua prosperidade humana, aliada a uma política de preservação honesta e responsável.

Por: Dr. Miguel Petrere Jr.
UFSCar – PPG em Diversidade Biológica e Conservação.
UNISANTA – PPG em Sustentabilidade de Ecossistemas Costeiros e Marinhos.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Unifap desenvolve pesquisa com peixes em busca de medicamentos

Exemplares de zebrafish. Foto: www.mpg.de.
Pesquisadores e alunos da Universidade Federal do Amapá (Unifap) realizam estudos e pesquisas com peixes asiáticos na busca de desenvolver medicamentos para doenças inflamatórias e depressão e ansiedade. O estudo é realizado no minilaboratório implantado pela Rede Amazônica de Pesquisa em Biofármacos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e intitulado “Plataforma Zebrafish”.

O laboratório teve um investimento de R$ 800 mil reais e recebeu o nome em alusão à espécie de peixe zebrafish, conhecido também por peixe paulistinha, de origem asiática e se tornou item de compra comum para donos de aquários, devido suas cores e listras. A Universidade é a primeira do norte do país a usar desses recursos, trazendo consigo oportunidades de desenvolver novos medicamentos.

De acordo com José Carlos Tavares, coordenador de pesquisa, cada peixe certificado custa em média R$ 4,00 reais e vem do Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. As reações e patologias são estudadas a partir da injeção de substâncias no organismo do peixe que possui um metabolismo mais acelerado que um roedor e apresentando uma semelhança maior em comparação com o organismo humano.

“A zebrafish é considerada uma ferramenta promissora para analisar candidatos a medicamentos. Esse tipo de peixe é utilizado devido a sua grande aproximação com o ser humano, em termos genéticos, na qual podemos induzir certas doenças humanas, justamente para estudar novos medicamentos e novos mecanismos de doenças”, explicou o professor.

A pesquisa conta com a participação de acadêmicos das áreas da saúde e aproximadamente vinte graduandos de mestrados e doutorados da federal do Amapá.

“Envolve recursos para quatro instituições: Universidade Federal do Amapá, as federais do Acre, Amazonas e Pará. É um recurso na faixa de R$ 1 milhão e 200 mil. Para o Amapá, o recurso foi em torno de R$ 800 mil, envolvendo a coordenação da rede e compra de equipamentos”, finalizou Tavares.

sábado, 26 de setembro de 2015

Como criar Piracanjuba

Piracanjuba tem lugar cativo no segmento de pesca esportiva (Foto: Rio Doce Piscicultura/Divulgação)

Se no entorno ou na propriedade rural houver água de boa procedência, já é mais do que meio caminho andado para o produtor transformar a criação de piracanjuba (Brycon orbignyanus) em uma atividade lucrativa. O peixe, que para viver bem e ter um bom desenvolvimento exige água de qualidade, é de manejo fácil e pode ser fonte de sustento para o criador que se dedicar ao seu manejo em cativeiro.

No segmento de pesca esportiva, a piracanjuba tem lugar cativo, por ter temperamento briguento, característica ideal de peixe para abastecer estabelecimentos de pesque e pague. Como no mercado o preço pago pelo quilo do adulto bate na casa dos R$ 10, trata-se de um ótimo comércio para o produtor da espécie, cuja unidade pode atingir até 2,5 quilos de peso em média – na natureza, há exemplares que chegam a 6 quilos.

De tom avermelhado parecido com o do salmão e tão saborosa quanto, a carne da piracanjuba é outro apelo comercial rentável da atividade. No varejo, peixarias, supermercados e feiras livres são alguns dos canais de venda da proteína animal, que faz parte do grupo de alimentos saudáveis – hoje cada vez mais difundidos entre os brasileiros.

Além de contribuir para a manutenção da vida da piracanjuba, o criador também pode lucrar com a venda de juvenis – filhotes com 10 centímetros são encontrados no mercado a R$ 1 a unidade – para uso no repovoamento de ambientes naturais. Devido aos impactos em seu hábitat, como destruição de matas ciliares, aumento de poluição nos leitos e pesca predatória, a piracanjuba está em risco de extinção em muitos rios brasileiros.

Criadores menos experientes, no entanto, devem se restringir às fases de crescimento da piracanjuba, pois o domínio de toda a cadeia de produção demanda mais habilidade do profissional. Peixe de piracema, que sobe os rios entre setembro e outubro para desovar entre novembro e janeiro, e de fecundação externa, a piracanjuba em cativeiro necessita que sua reprodução seja feita por indução hormonal, técnica que exige conhecimento.

Pouco explorado e com grande potencial, o peixe nativo da bacia do Rio Paraná ainda pode ser criado em lugares com pouco espaço, desde que a prática seja em tanques escavados. Testes realizados em tanques-redes indicaram que o cultivo em alta densidade é desaconselhado, dada a agressividade da espécie.

Contudo, vale ainda ressaltar que o retorno financeiro, no caso da piracanjuba, é proporcional ao tamanho do empreendimento realizado. Em geral, após um ano de cultivo, iniciam-se as vendas de peixes de 800 gramas a 1 quilo, mas os ganhos ocorrem a partir do quarto ano, se o produtor incluiu na implantação da atividade a construção de viveiros.

MÃO À OBRA

>>>Início Como em toda atividade econômica, uma recomendação importante para o sucesso da criação de piracanjuba é a definição do mercado local. Levante informações para avaliar se na região há boa demanda para a produção do peixe. Se considerado que vale o investimento, comece pela compra de alevinos com 2 centímetros. A aquisição deve ser realizada apenas de viveiristas idôneos e com referência. Para compensar financeiramente, inicie com o cultivo de cinco milheiros em 5.000 metros quadrados de lâmina d’água.

>>>Ambiente e temperatura são fatores determinantes para o desenvolvimento da piracanjuba e têm influência direta no prazo da despesca. A faixa de 25 ºC a 28 ºC é a indicada para se obter o melhor desempenho da criação. Por outro lado, deve-se evitar locais onde predominam temperaturas abaixo de 23 ºC.

>>> Tanques Em geral, a piracanjuba é criada em viveiros escavados de alvenaria, fibra ou chapa galvanizada e de tamanho variado, mas com densidade de, no máximo, 1 quilo de peixe por metro quadrado. Essa medida é possível quando o registro mínimo de renovação diária de água no tanque é de 10%. O abastecimento de água ocorre por meio de um canal e um tubo de PVC, ou uma vala simples, enquanto a vazão é regulada por um monge instalado dentro do tanque. Use rede protetora para impedir a invasão de predadores.

>>>Alimentação Na natureza, a piracanjuba come frutas, insetos e pequenos peixes. Em cativeiro, recomenda-se uma programação alimentar por peso. Até atingir 300 gramas, ao longo da fase de recria, indica-se oferecer uma ração extrusada de boa qualidade com 36% de proteína bruta. Acima de 300 gramas, quando a piracanjuba estiver no processo de engorda, troque para uma ração com 32% de proteína bruta. Forneça, pelo menos, duas refeições por dia.

>>>Cuidados Além de monitoramento constante da qualidade da água, os principais cuidados se concentram durante a larvicultura e a alevinagem, fases em que ocorre muito canibalismo entre os filhotes. É ainda necessária atenção redobrada quando a piracanjuba é alevino, período em que se torna alvo fácil de aves aquáticas.

>>>Reprodução É feita por indução hormonal em reprodutores mantidos em cativeiro. O macho está pronto a partir dos 2 anos de idade, quando atinge 20 centímetros de comprimento, enquanto a fêmea só no terceiro ano, com 25 centímetros. O tempo para ocorrer a despesca depende da temperatura local. Na Região Sudeste, por exemplo, se dá após um ano de cultivo, quando os peixes estão com aproximadamente 800 gramas de peso.

RAIO X
Criação mínima: 5 milheiros para 5.000 metros quadrados de lâmina d’água
Custo: R$ 450 é o preço de um milheiro
Retorno: em geral, 4 anos, vendendo peixes de cerca de 1 quilo após 12 meses de cultivo
Reprodução: por indução de hormônios (hipofisação).


Saiba mais como inicia sua produção de peixes com esse livro AQUI.

Codevasf ensina a criar peixes em viveiros em manual disponível para o público


Devido à grande relevância que a atividade piscícola possui hoje no Brasil, tanto economicamente, quanto como ferramenta de inclusão produtiva, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) publicou o Manual de Criação de Peixes em Viveiros. A publicação visa auxiliar produtores, técnicos da área, alunos e interessados no tema dos manejos e das boas práticas necessárias a esse tipo de atividade.
O manual tem como objetivo dar acesso gratuito a conhecimentos atualizados em piscicultura e foi dividido em 10 capítulos. Dentre os assuntos abordados, estão a elaboração de projetos, a construção da infraestrutura, a qualidade da água e o manejo produtivo. Nele são abordadas todas as fases de produção, desde a compra do alevino até a venda do peixe ao consumidor final.
De acordo com a analista da Unidade de Recursos Pesqueiros e Aquicultura da Codevasf e uma das autoras do manual, Maria Regina Soranna, “o manual surge para suprir uma carência existente no setor, pois não há muitos trabalhos voltados ao pequeno produtor e com linguagem acessível que permita fácil entendimento por parte do público em geral”.
Inicialmente serão impressos 40 mil exemplares em parceria com o Ministério da Pesca e Aquicultura. Segundo Leonardo Sampaio, chefe da Unidade de Recursos Pesqueiros e Aquicultura da Codevasf, “a distribuição dos manuais, em parceria com o Ministério da Pesca e Aquicultura, permitirá a divulgação em nível nacional. As Superintendências Regionais da Codevasf o utilizarão como material didático nas suas visitas técnicas e/ou em suas capacitações.”
Essa é uma ação coordenada pela Gerência de Desenvolvimento Territorial da Área de Revitalização das Bacias Hidrográficas (AR/GDT) da Codevasf e, como lembra a gerente Izabel Aragão, “a Codevasf já possui uma história de sucesso no desenvolvimento de tecnologias e transmissão de conhecimento em piscicultura”.
“Com a publicação desse manual, mais uma vez colaboramos para o fortalecimento da atividade no país, incentivando o desenvolvimento sustentável e favorecendo o pequeno produtor”, destaca a gerente de Desenvolvimento Territorial.
Outros manuais
A Codevasf, desde o final da década de 1970, produziu ou colaborou com a produção de mais de 1.200 publicações científicas entre as quais artigos em revistas nacionais e internacionais, livros, capítulos de livros, monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado e resumos apresentados em congressos. A maioria das publicações é oriunda de pesquisas realizadas nos Centros Integrados de Recursos Pesqueiros e Aquicultura da Codevasf.
Na década de 1980, a Codevasf publicou inúmeras cartilhas com temas diversos: transporte de larvas e alevinos, propagação artificial de peixes, beneficiamento e conservação de pescado, criação em consórcio de marreco e peixe, produção de alevinos, entre outros. Em 1984, a Companhia publicou o Manual de Identificação de Peixes da Região de Três Marias, e em 1985 a Codevasf lançou o Manual de Piscicultura, duas publicações que por muito tempo foram referência nacional.
Em 2009, a Codevasf optou pela concepção de manuais práticos e didáticos, tendo como principal público o produtor familiar, sendo o Manual de Criação de Peixes em Tanques-Rede o primeiro de uma série nesses moldes. Inicialmente foram impressos apenas dois mil exemplares; entretanto, o sucesso foi tão grande que o manual já está na segunda edição, tendo sido impressos 50 mil exemplares desde então.
O Manual de Criação de Peixes em Tanques-Rede é demandado por todo Brasil e já chegaram pedidos até de outros países da América Latina, como o Peru. Nesta mesma linha, em 2011 a Codevasf publicou o Manual de Criação de Caprinos e Ovinos e a cartilha “Competências e habilidades para a juventude: cidadania, saúde e meio ambiente”. Além desses, encontra-se em elaboração o Manual de Apicultura.

Faça o download do Manual de Criação de Peixes em Viveiros:

Ou por nossa página de download - AQUI.

Pescadores aprendem a transformar peixes em derivados como o peixebúrguer

O pescador Natalino em seu flutuante no Teles Pires (Foto: Divulgação/Teles Pires).
Das águas da Hidrelétrica Teles Pires sai o sustento de diversos pescadores da região de Paranaíta (MT). Há 18 anos, a atividade se desenvolveu, mas apenas em 2014 os moradores aliaram outras atividades à pesca tradicional para agregar valor e levar mais sustento às suas famílias. Com o curso de Beneficiamento e Conservação do Pescado, promovido pela Secretaria Municipal de Agricultura de Paranaíta em parceria com Companhia Hidrelétrica Teles Pires (CHTP), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/MT) e do Grupo Gestor de Turismo do município, cerca de três pescadores aprenderam a trabalhar o pescado e fazer, dentre outros produtos, o salame defumado de peixe.

O benefício foi notório: antes, eles vendiam o quilo do peixe a R$ 8, e com os derivados, os produtos podem custar quatro vezes mais. “Iniciei tirando o filé de peixe que consigo vender a R$ 25 reais o quilo e agora fiz para a família experimentar o salame defumado de peixe. Já tem várias pessoas que querem comprar o produto que posso vender por até R$ 35 reais”, conta o pescador Natalino Cardoso, de 64 anos, que começou na atividade apenas para consumo próprio da família e amigos.

A linha de produtos não para por aí: o pescador aprendeu a fazer carne moída, hambúrguer (peixebúrguer), charque, croquete, salame, linguiça frescal e mista, farinha de peixe, peixe defumado, dentre outros derivados.  São produzidos com matrinxãs, pacus, tambaquis, piaus, cacharas, covinas e jaús, espécies existentes nos reservatórios, pescadas diariamente de 15 a 30 kg por pescador. Todos são boas opções para substituir a carne bovina e aumentar o consumo de peixes. O Brasil consome anualmente 14,5 kg/habitante, acima da recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas abaixo da média mundial, que é 18,8 kg/habitante/ano.

De acordo com a coordenadora de Socioeconomia da CHTP, Marcileny Miranda, há chances de desenvolver cooperativas e, também profissionalizar a piscicultura. “Já iniciamos os preparativos para um novo curso de beneficiamento de pescado e um curso de associativismo. Nosso objetivo é fomentar a atividade pesqueira na área da Teles Pires e apoiar o segmento caso haja interesse dos pescadores em formar uma associação ou cooperativa, trabalhar com tanque rede e produção de derivados do peixe propiciando alternativas concretas para que esse público fortaleça a cadeia produtiva da pesca na região com consequentes melhorias na renda familiar”, destaca a coordenadora.

Empresa brasileira investe em construção de centro de piscicultura na Bolívia

Um dos objetivos do governo é aumentar o consumo de peixes entre os bolivianos (Foto: José Medeiros/Ed. Globo).
O governo da Bolívia contrata empresa brasileira Pacú Acuicultura para construir o maior complexo de piscicultura do país, um investimento de US$ 28,2 milhões. A fábrica beneficiará mais de 1.800 famílias da região.

O presidente Evo Morales participou em Cochabamba da cerimônia de assinatura do contrato entre a Empresa de Apoio à Produção de Alimentos (Emapa) e a companhia brasileira.

O complexo será construído em um terreno de 75 hectares em Chimoré, e deve estar concluído em setembro de 2017, afirmou o líder em discurso.

Segundo o projeto, um dos módulos do complexo deve produzir anualmente cinco milhões de alevinos de diferentes tipos de peixes, outro fabricará alimentos para porcos, frangos e peixes e um terceiro processará anualmente três mil toneladas de peixe.

Um dos objetivos do governo é aumentar o consumo de peixes entre os bolivianos, que é atualmente de só dois quilos por pessoa, segundo a agência estatal "ABI".

Tecnologia permite usar restos do pirarucu para enriquecer alimentos

Foto: Jimmy Christian/Divulgação. Fonte: www.portalamazonia.com.br

As carcaças do pirarucu, hoje descartadas após a retirada dos filés do peixe, podem virar matéria-prima para a indústria alimentícia. Cientistas brasileiros criaram uma maneira de transformar os restos de carne em uma substância líquida chamada hidrolisado proteico de pirarucu, capaz de enriquecer alimentos com baixo teor de proteína, como pães, cereais e biscoitos. O líquido também pode ser usado em alimentos para pessoas que não digerem a proteína do leite.

A técnica consiste em transformar esses restos de carne com o uso de enzimas, que geram reações químicas e resultam em um líquido com mais de 70% de proteína. A tecnologia é resultado de parceria entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) com a Universidade Federal do Amazonas e já está disponível para a produção e comercialização. O pedido de patente já foi feito ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial.

Beneficiamento do Pirarucu. Foto: http://acritica.uol.com.br/
O especialista em ciência de alimentos Rogerio Souza de Jesus, pesquisador do Inpa, conta que quando a manta do pirarucu é retirada para a venda, sobra grande quantidade de carne presa aos ossos que é jogada fora. “Em um pirarucu de tamanho médio, com cerca de 60 quilos, sobram mais ou menos 3 quilos de carne, não dá para desperdiçar isso”, diz Rogério, lembrando que a comercialização do animal tem crescido muito desde o início do manejo da espécie na Amazônia.

O pescado é uma fonte saudável de proteínas, lipídios, vitaminas A, D e do Complexo B e minerais como cálcio, fósforo, ferro, cobre e selênio. Segundo o pesquisador, é possível fazer o hidrolisado com outros peixes para aproveitar esses nutrientes, mas para isso são necessários novos estudos, pois cada espécie precisa de uma enzima específica.

Rogério de Jesus também contou que é possível retirar o odor de peixe do hidrolisado, que não altera o sabor dos alimentos e pode entrar como ingrediente em diversas formulações.

Fonte: revistagloborural.globo.com

Comissão de Agricultura apoia luta de pescadores por compensação ambiental

Foto: http://www12.senado.leg.br/

A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) vai intervir junto ao Executivo para que os pescadores artesanais possam receber compensações pelo impacto ambiental causado por exploração de petróleo e grandes obras de infraestrutura em áreas originalmente dedicadas à atividade pesqueira. O assunto foi discutido em uma audiência pública realizada na última quinta-feira (24/09) no Auditório Petrônio Portela do Senado.

Durante o encontro, a presidente da comissão, senadora Ana Amélia (PP-RS), defendeu o direcionamento dos recursos do governo a setores diretamente afetados por esses empreendimentos.

— Será preciso a articulação política da Comissão de Agricultura junto a autoridades responsáveis pelo sistema, para que possamos de maneira definitiva resolver um problema que vem se arrastando há algum tempo — afirmou a parlamentar.

Na avaliação do procurador do Trabalho Fabrício Maia, a pesca artesanal está entre as atividades mais prejudicadas pelas alterações ambientais decorrentes da exploração de petróleo e obras como hidrelétricas, por exemplo. Ele citou o caso de pescadores afetados pela atividade de navios-sonda a serviço de companhias petrolíferas, que utilizam, para perfurações no fundo do mar, tecnologia que afeta a reprodução de espécies marinhas.

Maia também não vê justificativa para o setor pesqueiro não ter assento na Câmara Federal de Compensação Ambiental e não constar entre os destinatários do benefício, regulamentado pelo Decreto 4.340/2002.

— Esse decreto deve ser alterado para colocar também como beneficiados pelo fundo de compensação os pescadores artesanais, seja para treiná-los, educá-los na área ambiental, profissionalizá-los e também reparar os prejuízos causados pela queda de produtividade — afirmou o procurador.

A opinião também foi compartilhada por outros participantes, como o presidente do Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura, Armando Burle, e o presidente da Confederação Nacional dos Pescadores e Aquicultores, Abraão Lincoln Ferreira da Cruz.

— O pescador não recebe um centavo da compensação ambiental milionária da exploração do petróleo — protestou Abraão da Cruz.

Qualificação

Autor do requerimento para realização do debate pela Comissão de Agricultura, o senador Benedito de Lira (PP-AL) também defendeu o uso dos recursos financeiros para melhorar a qualificação dos trabalhadores do setor.

— Através dessas compensações ambientais, os pescadores podem criar um fundo para melhorar a qualidade do trabalho da pesca artesanal — disse o senador.

O presidente da Federação Nacional das Associações dos Engenheiros de Pesca, Eliseu Augusto de Brito, sugeriu a utilização dos recursos para o sustento do pescador artesanal que participar de cursos de formação ou profissionalização.

— Ele não tem como sair da atividade para assistir aula, então é preciso garantir o sustento dele — argumentou.

Planejamento

Na opinião da secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, Ana Cristina Fialho de Barros, os impactos dos empreendimentos sobre a pesca podem ser evitados com um bom planejamento dos projetos.

— O processo de planejamento e licenciamento permite um diálogo entre a pesca e a concepção do empreendimento, para garantir que, no final do processo, essa atividade econômica e esse grupo social não fiquem prejudicados — disse.

Pesca proibida

Para Benedito de Lira, também é necessário apoiar os pescadores que enfrentam a proibição da pesca de diversas espécies consideradas em risco de extinção, conforme a Portaria 445/2014, do Ministério do Meio Ambiente.

— Para proteger espécies em extinção, já existe o seguro-defeso, quando se suspende a pesca de 4 a 6 meses, dependendo da espécie — disse o senador, ao pedir a revogação da portaria.

Conforme Fábio Hissa Vieira Hazin, secretário de Planejamento e Ordenamento da Pesca do Ministério da Pesca e Aquicultura, muitas espécies ficam ameaçadas de extinção não pela atividade pesqueira, mas pelos prejuízos ambientais provocados pelos grandes empreendimentos.

Para ele, os pescadores enfrentam ainda insegurança jurídica devido a mudanças frequentes nas proibições de pesca.

— O pescador sai para o mar sabendo que pode desembarcar uma espécie ou outra, mas não sabe, quando chegar, se vai ser punido por aquilo que pescou. Ele sai como pescador e volta como contraventor — afirmou.

Diálogo

Os senadores participantes pediram mais diálogo e o fim da “queda de braço” entre os Ministérios do Meio Ambiente e da Pesca.

— Precisamos de regras que não tragam dificuldades para a atividade. O caminho é o diálogo — frisou Fátima Bezerra (PT-RN).

Em resposta, Fábio Hazin, do Ministério da Pesca e Aquicultura, assegurou que os Ministérios não estão em “queda de braço”, mas “de braços dados” em apoio ao setor.

Ao encerrar o debate, a senadora Ana Amélia destacou o compromisso da CRA e do Congresso Nacional para assegurar maior participação do setor nas regulamentações e políticas que afetam os pescadores artesanais.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)